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País:Brasil
Idioma:português

Usar laxantes em crianças? Um novo estudo confirma a eficácia e tolerabilidade de bisacodil no uso de longo prazo


EFSM: 2021;1:210216DOI: 10.52778/efsm.21.0216Data de publicação: 16.08.2021
Marion Eberlin

Um estudo retrospetivo investigou a eficácia e tolerabilidade no uso de longo prazo e regular de bisacodil em crianças. Mesmo quando tomados durante um longo período (duração média do tratamento: 14 meses), o bisacodil foi eficaz, seguro e bem tolerado em crianças. Verificou-se que as preocupações acerca do desenvolvimento de dependência não tinham razão de ser; na maioria dos pacientes o bisacodil pôde ser retirado gradualmente sem qualquer alteração na frequência das evacuações.

Frequentemente, não só as crianças, mas também os adultos sofrem de obstipação crónica. Porém, até agora têm sido limitados os dados relativos à toma regular e de longo prazo de bisacodilo em crianças. Um novo estudo da Clínica Pediátrica de New Haven (New Haven Children’s Hospital, EUA) abordou agora esta lacuna e fornece dados atuais relativos à eficácia e tolerabilidade de um tratamento de longo prazo.  

Resultado: O bisacodilo é também eficaz, com bom perfil de segurança e bem tolerado no uso de longo prazo em crianças. Os receios de desenvolvimento de dependência são infundados.

A obstipação surge frequentemente nas crianças. Quando existem queixas crónicas, verifica-se, na maior parte das vezes, uma obstipação funcional. Este termo é referente a defecações irregulares e duras, frequentemente dolorosas, sem causas anatómicas ou uma doença subjacente.

O tratamento padrão inclui uma alimentação rica em fibras, laxantes osmóticos e enemas, bem como a utilização adicional de laxantes estimulantes como o bisacodilo, quando o efeito de outras medidas não for suficiente. Embora uma grande parte das pessoas afetadas responda a este conceito terapêutico, existe um subgrupo de doentes que pouco ou nada beneficia com este processo – os chamados casos refratários. Sobretudo nestes casos poderá ser útil o uso reforçado de bisacodilo.

Para alargar os dados limitados relativos à administração regular de longo prazo de bisacodilo – especialmente em crianças – foi iniciado um estudo relativo à eficácia e segurança de bisacodilo em doentes pediátricos [1].

Estudo retrospetivo em crianças e adolescentes

No estudo retrospetivo, foram incluídas crianças com obstipação funcional refratária, que foram enviadas para a Clínica Pediátrica de New Haven (New Haven Children’s Hospital, EUA), no período de 2007 a 2014, para avaliação e tratamento da sua obstipação crónica.

Com uma terapia de base com laxantes osmóticos, as crianças tinham uma frequência de defecação de duas ou menos vezes por semana. Foram, também, tratadas com bisacodilo durante um período de, pelo menos, quatro semanas. Foram registados dados demográficos, como idade e género, dose de bisacodilo, duração do tratamento, número de defecações por semana antes e depois do tratamento com bisacodilo, efeitos secundários e duração do seguimento.

No total, foram incluídos no estudo 164 doentes. A idade média era de 9,5 anos (0,9 – 21 anos), 52% das crianças eram do género feminino. A dose média de bisacodilo foi de 5 mg (1 a 20 mg), a duração média do tratamento foi de 14 meses (1 a 77 meses), em que 90% dos doentes tomaram a medicação por um período inferior a 36 meses.

Duplicação do número de defecações semanais

Os resultados do estudo mostraram que a frequência média de defecações com a administração regular de bisacodilo (além da terapia existente com laxantes osmóticos) aumentou significativamente de duas para quatro defecações por semana (p < 0,001).

Em 57% dos doentes (94 de 164) pôde, além disso, ser registada uma frequência das defecações ≥ 3 vezes por semana.

Não foi observado qualquer efeito de dependência em resultado do tratamento de longo prazo com bisacodilo

Além disso, os autores investigaram também até que ponto se poderia fazer um desmame gradual do tratamento dos doentes com bisacodilo, desde que apresentassem uma frequência constante das defecações ≥ 3 vezes por semana. Aqui foram analisados os dados pertinentes de 71 crianças.

Em 55% dos doentes, os sintomas puderam ser mantidos sob controlo tão bem que foi possível e bem-sucedida uma interrupção do bisacodilo (por meio de uma progressiva redução da dosagem ou da frequência das tomas). 45% dos doentes continuaram recorrer ao tratamento com bisacodilo.

Os autores concluíram que nem a duração do tratamento nem a dosagem, a idade ou o género dos doentes influenciaram a possibilidade ou impossibilidade de descontinuação do tratamento. O bisacodilo pôde ser descontinuado em muitos doentes –independentemente da duração do tratamento e da dosagem.

Foram observados efeitos secundários em apenas 8% dos doentes (13 de 164). Desses efeitos faziam parte, em primeiro lugar, dores abdominais temporárias e diarreia. Na maior parte dos casos, estes efeitos secundários desapareceram após a adaptação da dose. Apenas em cinco doentes esta situação levou ao termo da terapia.

Bisacodilo: eficaz e seguro na administração de longo prazo

O estudo retrospetivo demonstrou que, com bisacodilo, duplicou a frequência semanal de defecações em crianças com obstipação crónica refratária.

A tolerabilidade do princípio ativo foi quase sempre boa ao longo do período médio de tratamento de 14 meses, e apenas em 8% das crianças se verificaram efeitos secundários, que desapareceram, de uma maneira geral, com a adaptação da dose. Os autores puseram de parte quaisquer dúvidas relativamente a uma eventual dependência do bisacodilo – o tratamento de longo prazo não esteve associado nem ao desenvolvimento de dependência nem a outras complicações.

Assim, o estudo confirma a eficácia e segurança de bisacodilo em crianças, especialmente no que se refere a uma administração de longo prazo.

O bisacodilo foi utilizado neste estudo após aconselhamento médico.

Bibliografia 

  1. Bonilla S et al. Long Term Use of Bisacodyl in Pediatric Functional Constipation Refractory to Conventional Therapy. Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 2020, published ahead of print, doi: 10.1097/MPG.0000000000002795

Conflito de interesses: M. Eberlin é funcionária da Sanofi.

Divulgação: Texto e publicação médica financiados por Sanofi Aventis Deutschland GmbH.

Empresa/Correspondência: Marion Eberlin, PhD, Consumer Healthcare Medical Affairs, Sanofi-Aventis Deutschland GmbH, Industriepark Hoechst, 65026 Frankfurt am Main, Germany
Data de entrega: 22.12.2020Data de aprovação: 03.01.2021Data de publicação: 16.08.2021
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