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País:Brasil
Idioma:português

Probióticos: a qualidade importa


EFSM: 2022;2:220098DOI: 10.52778/efsm.22.0098Data de publicação: 02.05.2022
Paolo Pellegrino e Marcos Perez III.

Os probióticos são uma opção de tratamento geralmente segura e têm sido avaliados positivamente para vários problemas de saúde pela Colaboração Cochrane. No entanto, têm de ter uma qualidade da composição adequada e ser capazes de se manter no intestino para serem eficazes e seguros.

Os probióticos são bactérias com efeitos benéficos para a saúde. A sua eficácia e segurança foram avaliadas positivamente pela Colaboração Cochrane para várias indicações, como a diarreia infecciosa aguda [1]. No entanto, a Colaboração Cochrane observou também que as preparações individuais podem diferir e "é necessária mais investigação para orientar a utilização de regimes probióticos particulares". Como salientado em dois artigos de revisão recentes [2, 3], a eficácia e a segurança dos probióticos dependem não só das propriedades biológicas de espécies bacterianas específicas e das suas estirpes, mas também da qualidade da composição das preparações e da sua capacidade de se manter no intestino.

Os produtos farmacêuticos licenciados como fármacos estão sujeitos a rigorosos controlos de qualidade; isto aplica-se não só a pequenas moléculas e anticorpos, mas também a probióticos. Contudo, regulamentos menos rigorosos são geralmente aplicados a preparações categorizadas como suplemento dietético ou alimentos funcionais. Uma revisão recente [2] baseada em 38 avaliações de 31 fármacos probióticos comercializados constatou que em 37% (14/38) das avaliações o produto incluído continha microrganismos diferentes dos listados no rótulo, tendo sido encontrados contaminantes em 18% (7/38) deles. Além disso, apenas 29 produtos declararam quantidades esperadas no respetivo rótulo, sendo que 48% (14/29) foram encontrados com quantidades diferentes de bactérias em comparação com os respetivos rótulos. No total, apenas 29% (9/31) dos fármacos satisfez consistentemente os três critérios em todos os estudos (Tab. 1). A preparação testada mais vezes foi um produto de Bacillus clausii (Enterogermina®), que se constatou satisfazer os três critérios consistentemente ao longo de cinco estudos em separado.

Tab. 1. Conformidade com o indicado no rótulo de fármacos probióticos comercializados em todo o mundo com foco na composição microbiana, quantidade de células vivas e presença de microrganismos contaminantes. Reproduzido com a permissão de [2].

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ProdutoFabricante País Conformidade (composição)Conformidade (quantidade)Contaminantes Referência
Benegut Abbott ÍndiaNãoNãoSimKesavelu et al., 2020
BifilacTablets India LtdÍndiaNãoSimSimKesavelu et al., 2020
Bifilac GG Tablets India LtdÍndiaSimSimNãoKesavelu et al., 2020
Biogermin Union Health S.r.l.ItáliaSimSimNãoCelandroni et al., 2019
Codex ZambonItáliaSimSimNãoDe Vecchi et al., 2008
SimSimNãoVecchione et al., 2018
Combiflora MedopharmÍndiaNãoNãoNãoKesavelu et al., 2020
CyfolacKarnataka Antib & Pharm LtdÍndiaSimSimNoKesavelu et al., 2020
Darolac Aristo Pharmaceuticals Pvt LtdÍndiaNãoNãoNãoKesavelu et al., 2020
Ecogro Akum Drugs & PharmaÍndiaNãoSimSimPatrone et al., 2016
EconormDr. Reddy’s Laboratories LtdÍndiaSimN.D.NãoKesavelu et al., 2020
Entero Plus Glaxo India LtdÍndiaSimSimNãoKesavelu et al., 2020
EnterogerminaSanofi

Itália

Índia

SimSimNãoDe Vecchi et al., 2008 
SimSimNãoVecchione et al., 2018
SimSimNãoCelandroni et al., 2019
SimSimNãoPatrone et al., 2016
SimSimNãoKesavelu et al., 2020
Enterol capsulesBiodipharBélgicaSimSimNãoVanhee et al., 2010
Enterol sachetsBiodipharBélgicaSimSimNãoVanhee et al., 2010
EntromaxMankind PharmaÍndiaSimSimNãoPatrone et al., 2016
GNormNouveau MedicamentÍndiaSimN.D.NãoKesavelu et al., 2020
GutProRiata Life Sciences Pvt LtdÍndiaSimNãoNãoKesavelu et al., 2020
InfloranBERNAItáliaSimNãoNãoFasoli et al., 2003
Lacidofil Merck PolóniaNãoSimNãoZawistowska-Rojek et al., 2016
SimSimNãoKorona-Glowniak et al., 2019
LakcidBiomedPolóniaSimSimNãoZawistowska-Rojek et al., 2016
SimSimNãoZawistowska-Rojek et al., 2016
Ospor Matrix PharmaPaquistãoSimNãoNãoPatrone et al., 2016
Pre Pro KidFourrts India LaboratoriesÍndiaNãoNãoNãoKesavelu et al., 2020
Pre Pro Kid LFourrts India LaboratoriesÍndiaNãoNãoSimKesavelu et al., 2020
Reflora ZSundyota NumandisÍndiaNãoNãoNãoKesavelu et al., 2020
RegutolAlembic Pharmaceuticals LtdÍndiaNãoSimSimKesavelu et al., 2020
Remune Al Sundyota NumandisÍndiaNãoNãoNãoKesavelu et al., 2020
SPORLACSanzyme LtdÍndiaSimNãoNãoKesavelu et al., 2020
Super Flora GGSundyota NumandisÍndiaSimNãoNãoKesavelu et al., 2020
TufproVirchow Biotech Pvt. Ltd.ÍndiaNãoNãoSimPatrone et al., 2016
ViBactUSVÍndiaNãoSimSimKesavelu et al., 2020
VizylacTorrent Pharmaceuticals LtdÍndiaSimNãoNãoKesavelu et al., 2020

Um desafio essencial que se coloca aos probióticos administrados oralmente é que eles têm de sobreviver à passagem pelo ambiente hostil (altamente ácido) do estômago para alcançar o intestino em número suficiente para se tornarem biologicamente ativos. Isto é ilustrado por um estudo experimental no qual a sobrevivência de várias preparações probióticas comercializadas foi testada em três condições simuladas (dois sucos gástricos e um intestinal) [4]. Entre as 10 preparações testadas, apenas três mantiveram o número inicial de microrganismos em dois sucos gástricos simulados distintos e apenas dois em suco intestinal simulado. O produto de B. clausii Enterogermina® foi o único a conservar a sua atividade biológica nos três testes (Fig. 1), o que pode ser atribuído às suas capacidades de formação de esporos [4].

Uma revisão sistemática recente avaliou a taxa de sobrevivência de bactérias probióticas administradas oralmente durante o trânsito gastrointestinal com base em estudos clínicos com 17 estudos de estirpes únicas e 13 estudos de produtos multiestirpe [3]. Quando a dose administrada era superior a 1010 unidades de formação de colónias/dia, o probiótico podia ser recuperado das fezes, independentemente da estirpe utilizada. Isto independentemente da duração do tratamento.

O produto de B. clausii Enterogermina®, apesar de ter sido estudado apenas depois de uma única administração e numa dosagem inferior (6 mil milhões de UFC [unidades formadoras de colónias], em comparação com probióticos administrados até 100 mil milhões de UFC), encontrou-se entre os que tiveram a maior quantidade recuperada [3]. Este resultado parece confirmar num cenário clínico os resultados observados no modelo pré-clínico [4] e sugere que os esporos são altamente resistentes às duras condições do trânsito gastrointestinal.

No final, os autores concluíram que as recomendações gerais de dosagem para probióticos pelas agências reguladoras não são suficientemente elevadas para que uma estirpe sobreviva, se mantenha e seja eficaz no intestino. Além disso, notou-se que a resistência ao trânsito gastrointestinal é específica da estirpe, com bactérias formadoras de esporos entre as que têm maior capacidade de sobrevivência e persistência. De interesse, entre os formadores de esporos incluídos no estudo, B. clausii parece ter maior capacidade de resistência ao trato gastrointestinal [3].

Concluímos que é necessário um maior rigor no controlo da qualidade farmacêutica dos produtos probióticos comercializados e que a mesma atenção deve ser reservada para elucidar totalmente a capacidade de a estirpe alcançar, se manter e multiplicar no intestino. Esta última característica parece ser dependente da estirpe e pouco afetada pela matriz ou pela dosagem, especialmente quando os probióticos são administrados em dosagens inferiores a 10 mil milhões de UFC. O produto de B. clausii Enterogermina® parece ser uma das poucas preparações que preenchem consistentemente os critérios exigidos sobre qualidade da composição, capacidade de sobrevivência e persistência.

Bibliografia

  1. Allen SJ, Martinez EG, Gregorio GV, Dans LF. Probiotics for treating infectious diarrhoea. Cochrane Database of Systematic Reviews 2010;11:CD003048.
  2. Mazzantini D, Calvigioni M, Celandroni F, Lupetti A, Ghelardi E. Spotlight on the compositional quality of probiotic formulations marketed worldwide. Frontiers in Microbiology 2021;12.
  3. Morelli L, Pellegrino P. A critical evaluation of the factors affecting the survival and persistence of beneficial bacteria in healthy adults. Beneficial Microbes 2021;12:321–31.
  4. Vecchione A, Celandroni F, Mazzantini D, Senesi S, et al. Compositional quality and potential gastrointestinal behavior of probiotic products commercialized in Italy. Frontiers in Medicine 2018;5.

 

Conflito de interesses: P. Pellegrino e M. Perez III. são funcionários da Sanofi.

Divulgação: Texto e publicação médica financiados por Sanofi.

Empresa/Correspondência: Paolo Pellegrino, MD, Sanofi, Viale Bodio 37/b, 20158 Milan, Italy e Marcos Perez III., MD, Sanofi-Aventis Deutschland GmbH, Industriepark Hoechst, Frankfurt am Main, Germany
Data de entrega: 29.10.2021Data de aprovação: 01.04.2022Data de publicação: 02.05.2022
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